Para estrear
a crónica, e aproveitando esta época de tradição e de reunião familiar, nada
melhor do que falar do nosso país, das nossas origens e, obviamente, do nosso “fiel
amigo”. Na Páscoa, o Bacalhau é um prato comum à mesa dos portugueses,
principalmente na Sexta-feira Santa. A tradição de comer Bacalhau nesta época
festiva - e em outras festas de cariz religioso, como é o caso do Natal -
remonta à Idade Média. Durante a Quaresma, período de abstinência das
consideradas “carnes quentes” (carnes vermelhas), os comerciantes da altura apresentavam
como alternativa este peixe seco, com a denominação de “carne fria”, abrindo
assim as portas ao Bacalhau, que desde então se tornou parte integrante da
religiosidade e cultura do povo português.
Apesar de
pertencerem ao Vikings os primeiros registos da salga de Bacalhau, deve-se aos
bascos (povo que habitava o norte de Espanha), por volta do ano 1000, o início
da comercialização deste espécime.Durante o séc. XV os marinheiros portugueses, na sua busca por alimentos não perecíveis que suportassem as longas viagens ao longo do Atlântico, deram início à pesca do Bacalhau. Desde então e até meados do séc. XX, aventuramo-nos pelos gélidos mares para a pesca do “Pão dos Mares”. E se em 1508, 10 % do pescado comercializado em Portugal correspondia ao Bacalhau, em 2010 o seu consumo chegou às 62.110 toneladas! Somos, a nível Mundial, os maiores consumidores desta iguaria dos mares. Esta supremacia portuguesa é comprovada através das inúmeras receitas - mais de 356! - do “Rei dos Mares”. Entre elas encontramos o delicioso “Bacalhau à Zé do Pipo” que, tal como indica o próprio nome, era confeccionado pelo portuense Zé do Pipo, que venceu um concurso gastronómico na década de 1960 com esta iguaria. Vindo do Porto aparece-nos, ainda, o “Bacalhau à Gomes de Sá”: uma receita (re)inventada pelo comerciante José Gomes de Sá Júnior. Um dos pratos mais típicos (e simples de fazer) é o conceituado “Bacalhau à Brás”, que, segundo se conta, teve origem numa taberna lisboeta. No Convento de Santa-Clara, em Caminha, nasceu o “Bacalhau Assado com broa à moda do Minho”, que devido à sua popularidade começou logo a ser vendido em tabernas e pequenos arraiais. As deliciosas “Pataniscas de Bacalhau”, embora confeccionadas em todo o País, são originárias da Estremadura e podem ser servidas como prato principal ou entrada. Não posso deixar de mencionar os famosíssimos e divinais “Pastéis de Bacalhau”. Primeiramente servidos no Minho, estes “Pastéis” depressa se espalharam um pouco por todo o território, tendo mesmo chegado ao Brasil onde são conhecidos como “Bolinhos de Bacalhau” e, inevitavelmente relacionados a Portugal. Estas são apenas algumas das muitas receitas que já fazem parte da cultura e tradição popular, e que mais do que pertencerem a uma região ou cidade, pertencem a todos os portugueses.
Seja qual
for a receita que escolher não se esqueça de acompanhar o fiel amigo com broa e
um bom vinho nacional.
Bons
cozinhados!
Bárbara M. Alves
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